quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Estado Contemporâneo segundo Foucaut

Michel Foucaut foi, por vezes, influenciado por Nietzsche no que diz respeito à discussão sobre a vontade de verdade (busca pela verdade absoluta) e vontade de potência (vinculada ao poder). Foucaut relaciona o saber com o poder, descrevendo as instituições da sociedade moderna ou contemporânea e buscando onde elas exercem a coerção que chega a impedir a autonomia de pensar do indivíduo.
Foucaut cita Hobbes para descrever a sociedade governada apenas pelo poder do Estado. No entanto, a sociedade atual se apresenta constituída por diversas instituições de poder horizontal, como família, Igreja e trabalho. Tais divisões institucionais produzem tamanha influência no indivíduo que o "fabricam" e o torna diferente do outro. Cada instiuição pela qual um indivíduo passa, portanto, exerce poder sobre ele, fazendo com que interprete tal poder e desenvolva sua formação. Foucaut vai chamar esse poder das instituições de Poder Diciplinar, caracterizado por quatro vertentes, sendo elas: o tempo, o espaço, a vigilância constante e o conhecimento. A vigilância constante implica nas pessoas se manterem contidas e obedecendo às leis por se sentirem constantemente vigiadas, mesmo quando não estão sendo. A questão do conhecimento, por sua vez, seria o aperfeiçoamento do saber, ou seja, quanto mais um indivíduo sabe, mais ele se torna apto a saber. O conhecimento, assim, é otimizado.
No entanto, Foucaut vê a sociedade atual não mais como uma Sociedade Diciplinar, e sim antecipando o conceito de Sociedade de Controle. Na Sociedade de Controle, o próprio homem passa a cooperar com aquele que exerce o controle ou até mesmo com o seu próprio controle. As pessoas gostam de elas mesmas exercer tal vigilância e colaborar para que ela seja exercida. Isso caracteriza a vontade de potência do indivíduo. O Estado, portanto, passa a ter menos importância do que o estado em Hobbes, uma vez que existem outras instituições de poder e a própria população colabora com a vigilância.
Foucaut ainda fala que nas sociedades mais antigas, a morte não era vista como um tabu, pelo contrário, fazia parte da vida das pessoas. Os difuntos muitas vezes eram enterrados no quintal da casa da família e aconteciam mortes em praça pública. Seria o "Fazer morrer, deixar viver" de Hobbes. Porém, na sociedade contemporânea (de controle), a morte se tornou um tabu e adquire uma estrutura racional, amenizada por eufemismos e evitada o máximo possível. Foucaut caracteriza essa época pela Biopolítica, ou seja, a política de incentivo e preservação da vida. É o "Fazer viver, deixar morrer". A vida deve ser priorizada, potencializada. Entretanto, existe a guerra. Foucaut explica esse paradoxo com a Biopolítica na sociedade de controle, ou seja, a preservação da vida de alguns, e não se todos. Declara-se guerra a quem ameaça a preservação da vida de quem tem que viver. Carl von Clauzevitz diria que "A guerra é a política continuada por outros meios". Já Foucaut, diz, em contrapartida, que "A política é a guerra continuada por outros meios".  Foucaut acreditava que a guerra era algo natural do homem.
A Biopolítica, nesse sentido, caracteriza a sociedade capitalista, a competição constante pela vida. O Estado biopolítico mantém o capitalismo pelo poder de controle da sociedade, buscando preservar a vida daqueles que são úteis e não dando grande importância para aqueles que não são.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os impactos da exploração do homem pelo homem

Segundo Marx, o conflito entre classes sociais acompanhou a história das sociedades ocidentais. Para o autor, todo o legado econômico e material das civilizações humanas são frutos de processos produtivos embasados na exploração por diversas formas do trabalhador: Seja na exploração do trabalho escravo pelas civilizações antigas, seja na relação de submissão de um servo para um senhor , seja nos processos modernos de exploração do proletariado operário. Os impactos dessa exploração histórica são nitidamente sentidos nas raízes dos grandes problemas econômicos, sociais e políticos que enfrentamos hoje.
Embora os ideais liberais modernos tenham por bandeira a defesa e conservação da liberdade individual, a igualdade perante uma constituição, Marx identificou na sua obra as contradições teóricas dessas equações: todo o lado ideológico amplamente investido e divulgado foi desmistificado por ele como uma carapuça vestida por trás de objetivos de prosperidade individual, que só poderiam ser feitos por meio de práticas burguesas que deviam ser institucionalizadas.
Portanto, a prosperidade material capitalista e todo seu dinamismo produtivo se formam na exploração do trabalho e na usurpação da propriedade privada. A igualdade e a liberdade civil, que o valor de sua implantação é reconhecido por Marx, realmente acabaram com a imposição eterna de uma estagnação social natural de um indivíduo em uma sociedade, como era nas absolutistas ou nas feudais;
Porém, os processos produtivos e suas bases criam condições sociais a determinadas camadas da população que freiam qualquer possibilidade da materialização da igualdade jurídica em igualdade social. Além disso, a imposição abstrata de toda sua doutrina acaba por limitar a liberdade de seus indivíduos. A liberdade constitucionalizada liberal foca mais na liberdade de propriedade do que na liberdade social. Então, para a grande massa popular, a liberdade e igualdade pregada pelo liberalismo são ilusórias; São garantidas constitucionalmente e ideologicamente, porém na prática a situação se vê contrária.
A exploração do homem pelo homem, então, nunca foi extinta como a teoria liberal sugere: Seus mecanismos só foram adaptados, reformulados para atender as novas necessidades de um comércio dinâmico e intensificado. Essa adaptação foi dada no curso de muitos anos em meio a diversos processos históricos que moldaram e culminaram nas estruturas sociais e políticas das sociedades liberais modernas. A sociedade capitalista desenvolveu com o tempo mecanismos capaz de garantir seu desenvolvimento e conservação, além da maximização produtiva.
As relações comerciais surgidas nos burgos são desvirtuadas pelas práticas capitalistas. Nos burgos, onde se deixa de ter a troca simples e passa-se a ter a troca pelo equivalente geral, na forma do dinheiro, o trabalhador passa a ter uma medida do valor do seu trabalho, sendo esse calculado pelo tempo de trabalho necessário para a produção de alguma mercadoria, o “tempo socialmente necessário”. Tal relação foi modificada, adaptada.
Junto ao tempo, as formas antigas de comércio e trabalho são reformuladas por meio de imposições que não mais físicas e sim jurídicas. Os trabalhadores europeus foram crescentemente desapropriados de suas terras que usavam para sustento, trabalho, habitação. Não viram outra opção a não ser migrar para as cidades e atender as novas condições sociais e comerciais. A exploração do trabalhador é feita pelo empresário capitalista partindo da divisão do trabalho; O desparecimento crescente das antigas especialidades, das corporações de ofício, que antes representavam a identidade do trabalhador, culmina em uma conseqüente generalização do trabalhador em operário industrial.
A exploração do trabalhador é dado a partir da remuneração limitada do trabalho que foi efetivado. Sem o conceito do lucro, que surge com o capitalismo, o critério para estabelecer o valor da mercadoria, como já foi mencionado, era apenas o tempo necessário para produzi-la. A prática da mais valia (diferença entre o valor gerado pelo produto do trabalhador e o valor recebido por ele que vai para o dono dos meios de produção) aparece como o principal fundamento para a nova forma de produção focada em metas lucrativas individuais dos donos do meio de produção. Os trabalhadores se vêm subordinados as novas práticas.
Essa realidade social e econômica aliena os indivíduos das sociedades capitalistas. A exploração, passa, novamente, a ser vista como “natural”: É imposta, sem deixar de ser feita “voluntariamente”; A mercadoria passa a ter sua medida baseada em novos aspectos; Além do valor de uso e do tempo gasto para a sua produção, novos elementos, como o conceito de "fetichismo da mercadoria" desenvolvido por Marx, passam a estar implícitos no valor de cada produto.O trabalhador se vê cada vez mais distanciado da mercadoria que está produzindo e os indivíduos das sociedades modernas não são mais nem capazes de enxergar o trabalho oriundo em cada uma.
Apenas após muito tempo a esquerda surgiu como linha questionadora e como uma alternativa a essa realidade; Durante esse espaço de tempo, a exploração foi desenfreada e escancarada; antes do surgimento de sindicatos inspirados nos ideais esquerdistas que defendiam o trabalhador, são formadas as origens da miséria social presente nas sociedades capitalistas; Também aí se registra outros fenômenos de patologia social que se sentem presente até hoje; O alcoolismo, por exemplo, é um termo que é datado paralelamente a esse período, justamente por ter nascido por decisiva influência desses movimentos: o trabalhador se via oprimido diante de tudo isso e o álcool aparecia então como um consolo a sua condição explorada.
Por fim, a crítica marxista também se vê presente no cenário das relações internacionais. Os fundamentos liberais prevêem a universalidade de sua fórmula como condição ao seu desenvolvimento. Marx questiona tais conceitos ao enxergar que as sociedades distribuídas ao globo têm de definir sua própria política sem influência externa; Influência baseada apenas na exploração e na acumulação egoísta de riquezas por parte das potências. A submissão e alienação fogem dos cenários sociais particulares e passam a ser efetivas também no cenário geo-político mundial. Não é preciso mencionar os efeitos dessa condição nas sociedades alheias da Europa: Basta olhar a situação social de países em regiões distintas.
A essência da crítica de Marx encontra-se no acúmulo de riquezas pelo empresário capitalista ou pelas potências europeias; Só assim foi possível a conseqüente exploração feita pelo sistema capitalista em todos os seus âmbitos. O “fim” do capitalismo só poderia ser feito através da crescente consciência do proletariado para acabar com sua condição, com a crescente consciência dos países oprimidos, para finalmente então dividir os lucros e os recursos abundantes do planeta.